História sobre amamentar pequenos seres

Um dos temas que propuseram voltar a falar foi partilhar a nossa experiência de amamentação. Digo nossa experiência, porque isto da amamentação é um trabalho de equipa. A nossa equipa é composta por quatro magníficos elementos: a mãe, o bebé, a irmã mais velha e o pai, todos juntos somos uma história de conquistas e sucessos. Logo, se falo de conquistas é porque houve alguns desafios.

Vou tentar não ser muito extensa mas, vou tentar passar a mensagem mais fiel à nossa realidade. Se alguém se conseguir identificar ou tirar algo de bom daqui  já fico muito feliz.

Para contextualizar, a Mia mamou até  aos seus 20 meses. A partir daqui, não pedia, nem queria. A única ligação que tinha com a maminha era para adormecer. Tinha que estar sempre a massajar a maminha, tipo gato. Hábito que eu pouco apreciei e aos poucos fomos tirando. Bom, de importante a reter aqui, a Mia mamou até ao meu sexto / sétimo mês de gravidez. Fez um desmame super natural. Imagino que o principal factor tenha sido a mudança de sabor do leite que pode ocorrer durante a gestação, ou simplesmente porque ela assim quis.

O Mateus nasceu às 40 semanas + 6 dias de parto induzido, via vaginal. Sobre o parto poderei falar num outro post mas, posso avançar que foi muito diferente do da Mia e o sentimento imediato foi de uma paz e plenitude inexplicável.

Meti o Mateus à maminha nos seus primeiros minutos de vida e ele mamou. Ainda tinha ” leitinho da mana ” mas,  depois o leitinho mudou para o famoso colostro.

No hospital o Mateus começou a demonstrar dificuldades em fazer uma pega correta devido à tensão mamária da subida do leite. Os mamilos, que por si só já são planos, naquele momento eram quase impossíveis de extrair. Também pela primeira vez tive um dos mamilos gretado. Dores horríveis mas, continuamos. Fiz massagens para aliviar as mamas mas digo-vos, não estava fácil. Recorri a mamilos de silicone, por aconselhamento dos profissionais. Eu própria sou profissional de saúde e naquele momento, tendo o conhecimento dos efeitos menos bons, a longo prazo, dos mamilos para a amamentação, também sei que eles nos podem ajudar nesta fase inicial. Sei porque da Mia foi igual. O miúdo conseguiu alimentar-se e magoar menos mãe.

Bom, ainda no hospital o pequeno perdeu 9% do peso de nascença. Não foi nunca  suplementado até aqui.

Agora estávamos em casa e começou a minha ansiedade a aumentar devido à experiência anterior. As dúvidas começaram a cavalgar na minha cabeça. Aqui na Suíça, o acompanhamento é basicamente feito em casa, só vamos ao consultório médico quando o bebé tem um mês ou em caso de urgência. A minha enfermeira passou todos os dias durante 15 dias, no mínimo.

Estão a imaginar a minha angústia? Pesar, ver se tinha aumentado ou não, ver se mamava, quanto mamava de cada vez, pesar antes e depois … começou a ser demasiado angustiante. Claro que isso iria ter consequências na amamentação, na minha confiança e auto-estima.

O bebé num dia ganhava, no dia seguinte ganhava menos ou até perdia. Havia tantos mas tantos fatores envolvidos para as oscilações de peso. Existem mesmo relatos que podem vir a mudar as recomendações oficias em relação à perda de peso dos recém-nascidos. Estas famosas percentagens podem vir a sofrer mudanças, pois cada parto é um parto, a acumulação de líquidos que a mãe recebe pode influenciar o peso do bebé à nascença, por consequência pode ser um bebé que perca mais peso, falso peso digo eu. Mas, eram as guidelines do momento, nada a fazer.

Existe também o medo de um bebé tão pequeno estar a perder peso. Esse medo existe tanto nos profissionais  como para nós pais. E até que ponto somos muito ou pouco preocupados? Tantas perguntas surgem nesta fase.

Não podemos continuar assim, ele já devia estar em tal sítio da curva de ganho de peso. Ele não tem força para mamar. Ouvi tudo isso.  O meu medo … o medo da enfermeira… o medo pelo meu filho tomou conta do meu coração. Então começamos a suplementar, inicialmente duas vezes por dia. Eu apenas quero o bem dele. Neste momento o bem dele é estar alimentado. Não importa como.

Ele pegou no biberão mas, nunca mamou sôfrego. Como se estivesse faminto. Isto também preocupou a enfermeira. O peso evoluia muito devagar. Ao ritmo dele, achava eu. Mas todas as outras questões permaneceram no ar. Será que mama mesmo? Nunca iremos saber. Nunca tirei rios de leite com a bomba quando foi da Mia mas, também sei que o que tiramos não é proporcional ao que eles mamam. E os ses continuavam.

Aos 9 dias de vida, teve direito à sua primeira ida ao médico. A enfermeira não estava de todo confortável com esta situação. Expôs o caso ao médico com toda a urgência.

Eu também já tinha falado com uma enfermeira especialista em pediatria, Cátia Godinho, que já me tinha ajudado na altura da Mia. ( Há um post sobre esse tema também). Atirei para todos os lados para ver se conseguia ajudar o meu filho, que aos meus olhos estava bem. Apenas foi m menino, que precisou de mais tempo para ganhar peso. Assim como a irmã. Mas tinha todos os outros sinais de que estava bem.

O médico observou e concluiu… parece tudo bem mas, há sempre um mas não é? Mas nós não gostamos de bébés que engordem devagar. Então encontramos a nossa solução para tentat preservar ao máximo a amamentação. Sim, porque nisto já parecia que eu estava a por em risco o miúdo só por capricho de o querer amamentar em exclusivo. Pelo menos foi como me senti aos olhos destes profissionais.

Em acordo com o médico decidimos dar apenas uma mama de cada vez, durante o tempo máximo de 5-7 minutos e depois dar suplemento. Para ele não se cansar. Assim fomos. Eu continuei a dar mama mas, era um tempo muito curto. E ele mamava certinho a cada 2 ou 3 horas, como até aqui. E quando, por vezes queria o conforto da maminha da mãe, também lhe dei.

A enfermeira que nos seguia foi de férias e a substituta que veio, já conhecia o caso mas, não nos conhecia a nós. Além disso não sei que transmissões foram feitas e que juízos de valores foram levantados. Mas digo-vos só isto. Veio um dia e no dia seguinte já nos tinha encaminhado de novo para o nosso pediatra.

Lembro-me que íamos passear nesse dia, pois era o último dia de férias do meu marido mas, acabamos nas urgências do hospital mais próximo.

Ora então. O nosso pediatra estava de férias. Ainda assim leu o email que recebeu e depois de falar com a enfermeira ligou-me para saber da minha ” versão”. Logo lhe disse que até tinha ido pesar a criança à balança do consultório dele e tinha aumentado, já não sei quantas gramas desde a última consulta em que ele o viu. Mas lembro-me que dava algo dentro dos valores normais para o ganho de peso diário para um bebé daquela idade. Disse que ele me parecia bem, como quando ele o viu. Mas acabei a minha frase dizendo… ” acho que não sou a melhor pessoa para avaliar o meu filho neste momento. Não consigo olhar para ele nem só como enfermeira, nem só como mãe. Se calhar não estou a olhar, a avaliar como devia. Estou perdida.” E chorei.

Ufa … pessoal preciso de uma pausa … estou de coração apertado de estar a recordar isto… uffff… o resto vai num outro post.

Até lá beijos PLiM *

3 thoughts on “História sobre amamentar pequenos seres

  1. Obrigada pela partilha!! Ser mãe está longe de ser fácil, mãe enfermeira ainda pior!! Muitos beijinhos 😘😘

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